Mais sobre Exú
Encontramos aqueles que crêem que os Exus
são entidades (espíritos) que só fazem o bem, e outros que crêem que os Exus
podem também ser neutros ou maus.
Observe-se que, muitas vezes, os médiuns
dos terreiros de Umbanda - e mesmo de Candomblé- não têm uma idéia muito clara
da natureza da(s) entidade(s), quase sempre, por falta de estudo da religião.
Na verdade, essa Entidade não deve ser confundida com os eguns (obsessores),
apesar de transitar na mesma Linha das Almas (uma das três linhas
independentes) sendo o seu dia a segunda-feira, ficando sob o seu controle e
comando os Kiumbas, espíritos atrasadíssimos na evolução e que são orientados
pelos Exus para que consigam a evolução através de trabalhos espirituais feitos
para o bem.
Sua função mítica é a de mensageiro, o que
leva os pedidos e oferendas do homens aos Orixás, já que o único contato direto
entre essas diferentes categorias só acontece no momento da incorporação,
quando o corpo do ser humano é tomado pela energia e pela consciência do seu
Exu. É ele quem traduz as linguagens humanas para a das divindades. Por isso, é
imprescindível a presença dele para a realização de qualquer ritual, porque é o
único que efetivamente assegura em uma dimensão o que está acontecendo na
outra, abrindo os caminhos para os Orixás se aproximarem dos locais onde estão
sendo cultuados.
O poder de comunicar e ligar, confere a
ele também o oposto, a possibilidade de desligar e comprometer qualquer
comunicação. Se possibilita a construção, também permite a destruição. Esse
poder foi traduzido mitologicamente no fato de Exu habitar as encruzilhadas,
cemitérios, passagens, os diferentes e vários cruzamentos entre caminhos e
rotas, e ser o senhor das porteiras, portas de entradas e saídas.
Há algumas diferenças na maneira de ver a
divindade Exu no Candomblé e na Umbanda. No primeiro, Exu é como os demais
Orixás, uma personalização de fenômenos naturais. O Candomblé considera que as
divindades, ou seja, os Orixás incorporam nos médiuns (cavalos ou aparelhos).
Na Umbanda, quem incorpora nos médiuns, além dos Caboclos, Pretos Velhos e
Crianças, são os Falangeiros de Orixás, representantes deles, e não os
próprios.
A Umbanda vê os Exus não como deuses, mas
como energia ou força primitiva. A substância pura. Em síntese o grande agente
mágico de equilíbrio universal. Nos terreiros sérios julgam-no como um dos
maiores, se não o maior executor da Lei Kármica, embora, às vezes inconscientemente.
Também é o guardião dos trabalhos de magia, onde se opera com forças ou
entidades do baixo astral. E também são considerados como
"policiais", que agem pela Lei, no submundo do "crime"
organizado e principalmente policiando o Médium no seu dia-a-dia. As
"equipes" de Exus sempre estão nestas zonas infernais, mas, não vivem
nela. Passam, a maior parte do tempo nela, mas, não fazem parte dela.
Esses espíritos utilizam-se de energias
mais "densas" (materiais). Note-se que essas entidades podem realizar
trabalhos benignos, como curas, orientação em todos os setores da vida pessoal
dos consulentes e praticar a caridade em geral. A condição de Exu para um
espírito é transitória, podendo este, uma vez redimidas suas dívidas perante a
Lei Divina, se reencarnar como pessoa na Terra ou seguir no mundo dos espíritos
em escalas mais elevadas de evolução (podem passar a pertencer a falanges de
Pretos Velhos etc). Essas falanges, e outras, são a divisão ou escala à qual
pertencem os espíritos, mais ou menos equivalentes à escala espírita definida
por Kardec.
Os trabalhos malignos (os tão famosos
"pactos com o diabo" ), como matar por exemplo, não são acordos
feitos com os Exus, mas com os Kiumbas que agem na surdina e não estão sob a
orientação de algum Exu, fazendo-se passar por um deles, atuando em terreiros
que não praticam os fundamentos básicos da Umbanda que são: existência de um
Deus único, crença de entidades espirituais em evolução, crença em Orixás e
Santos chefiando falanges que formam a hierarquia espiritual, crença em guias
mensageiros, na existência da alma, na prática da mediunidade sob forma de
desenvolvimento espiritual do médium, e o uso de ervas e frutos. Jamais sangue,
e caridade acima de tudo.
Os Exus são confundidos com os Kiumbas,
que são espíritos trevosos ou obsessores, são espíritos que se encontram
desajustados perante à Lei, provocando os mais variados distúrbios morais e
mentais nas pessoas, desde pequenas confusões, até as mais duras e tristes
obsessões. São espíritos que se comprazem na prática do mal, apenas por
sentirem prazer ou por vinganças, calcadas no ódio doentio. Aguardando, enfim,
que a Lei os "recupere" da melhor maneira possível (voluntária ou
involuntariamente). Vivem no baixo astral, onde as vibrações energéticas são
densas. Este baixo astral é uma enorme egrégora formada pelos maus pensamentos
e atitudes dos espíritos encarnados ou desencarnados. Sentimentos baixos, vãs
paixões, ódios, rancores, raivas, vinganças, sensualidade desenfreada, vícios
de toda estirpe, alimentam esta faixa vibracional e os Kiumbas se comprazem
nisso, já que sentem-se mais fortalecidos.
O verdadeiro Exu não faz mal a ninguém,
mas joga para cima de quem merece, quem realmente é mau, recebe o mau de volta
através da força dele. Ele devolve, as vezes até com mais intensidade os
trabalhos malignos que alguns fizeram contra outros. Alguns Exus foram pessoas
como políticos, médicos, advogados, trabalhadores, vadios, prostitutas, pessoas
comuns, padres etc, que cometeram alguma falha e escolheram - ou foram
escolhidos para - vir nessa forma a fim de redimir seus erros passados; outros
são espíritos evoluídos que escolheram ajudar e continuar sua evolução
atendendo e orientando as pessoas, e combatendo o mal. Em seus trabalhos de
magia, Exu corta demandas, desfaz trabalhos malignos, feitiços e magia negra,
feitos por espíritos obscuros, sem luz (Kiumbas). Ajudam a limpar, retirando os
espíritos obsessores e os encaminhando para luz ou para que possam cumprir suas
penas em outros lugares do astral inferior.
A Doutrina Espírita trata-os como
espíritos imperfeitos, almas dos homens que, por terem cometido crimes perante
a Lei Divina, são submetidos a difíceis provas, cujo único objetivo é o de que
possam compreender a extensão do mal que praticaram em outras vidas.
De um modo geral, pode-se dizer que nos
terreiros sérios de Umbanda e Candomblé, independentemente da gira ou engira
(Lei) que sigam, assim como os Centros Espíritas, manifestam-se os mesmos
seres, espíritos ou energias vivas e inteligentes que são a essência de nós
mesmos.
Uma verdadeira casa de caridade é sempre
reconhecida pela gratuidade dos serviços prestados a quem procura ajuda, seja
na Umbanda, no Candomblé, no Vodu ou no Centro Espírita.
Comentários