Mais sobre o Candomblé
Estudando os cultos africanos, podemos
concluir que a maioria das religiões afro-brasileiras são frutos de uma forte
nação chamada de nagô, também denominada Yorubá. Na década de 1930, quando
realmente o candomblé ganhava espaço na Bahia, dois grandes líderes religiosos
se destacam abrindo caminhos para religião e a comunidade negra em geral, são
eles a Yalorixá Eugênia Ana dos Santos, a famosa Aninha de Xangô do Axé Opô
Afonjá e o Babalawo Martiniano Eliseu do Bonfim. Estes dois são atualmente os
nomes mais lembrados na tradição oral dos terreiros da Bahia, eram reconhecidos
como detentores legítimos do saber religioso; conheciam bem suas origens
étnicas e culturais. Seres queridos, respeitados e temidos, e são lembrados com
muita reverência nos terreiros de candomblé baianos.
A Yalorixá Eugênia dos Santos, Aninha,
nascida em 13 de junho de 1869, era filha de Sérgio dos Santos chamado de aniió
e Lucinha Maria da Conceição, chamada de Azambrió na linguagem grunce. Aninha
dizia que sua seita era Nagô puro, filha de santo de Marcelina Obatossi, que
por sua vez era "prima e filha de santo de Ia Nasso", uma das
fundadoras da casa branca do engenho velho (o primeiro terreiro de candomblé da
Bahia). Depois de certos desentendimentos, Aninha sai do engenho velho com seu
pessoal e vai para uma roça no Rio vermelho onde funcionava a roça de Joaquim
Vieira de Xangô (Oba Sãiyá), um dos maiores conhecedores da religião africana
da época. Logo Aninha funda o seu terreiro, a casa de Xangô Afonjá, com seu
amigo e irmão de santo tio Joaquim, que morreria pouco depois. Aninha passou a
ter a ajuda confiável de Martiniano e dos conhecimentos da velha Maria Bada; e
com sua boa vontade , seu espírito batalhador e ajuda de todos que a
acompanhavam construiu seu ilê axé, chamado Opô Afonjá que deu origem a outras
grandes personalidades do candomblé: Maria Bibiana do espírito Santo, Senhora
de Oxum Muiwá que recebeu em 1952, o título honorífico de Iyanassô pelo Aláàfin
Oyó, da Nigéria; Marcelina da Silva, Oba Tossi; Ondina Valéria Pimentel, filha
do Balé Xangô José Teodoro Pimentel; Isolina A. de Araújo; Mestre Didi; entre
outros grandes, também, posso citar o meu amigo pessoal Albino Daniel de Paula
(Obaraim) filho de santo de mãe Senhora, que foi o único homem a se tornar
Babalorixá no Opô Afonjá, e segue firme na prática dos antigos fundamentos.
Maria Bibiana do Espírito Santo, Mãe Senhora, era descendente direta da família
Asìpá (axipá), e foi depois de mãe Aninha, a mais importante yalorixá do Opô
Afonjá.
Martiniano Eliseu do Bonfim foi um membro
muito influente dos candomblés da Bahia, desde os fins do século XIX. Era filho
de pais africanos, que haviam comprado sua própria liberdade; foi enviado pelo
pai mais ou menos aos quatorze anos, a Lagos, Nigéria, e estudou as tradições
religiosas africanas de seus antepassados. Voltou à Bahia, onde seus
conhecimentos foram reconhecidos e o conduziu rapidamente a fama. Seu pai era
da tribo egbá, foi trazido para o Brasil cerca de 1820 e liberto em 1942. O
nome de sua mãe era Manjegbassa, era da nação Ijexá, e tinha as marcas da nação
no rosto (marcas tribais dos iorubas). Seus pais lhe deram ao nascer o nome de
Ojeladê. Martiniano era conhecido e chamado, nos terreiros, inclusive de culto
aos eguns, por seu nome nagô Ojeladê. Ficou em lagos durante onze anos; para ele
"África" era Lagos, eram os nagôs, os iorubas, sua nação. A ida à
África era um importante elemento legitimador de prestigio e gerador de
conhecimentos. Martiniano Eliseu do Bonfim e Eugênia Ana dos Santos eram
grandes amigos, e é sabido que o Babalawo colaborou largamente com a Yalorixá,
inclusive na estruturação do grupo dos Obás ou Ministros de Xangô, no Axé do
Opô Afonjá; recebeu de Aninha o honroso título de Ajimudá, o que marcou o
profundo respeito e consideração que a yalorixá tinha pelo sábio Babalawo e
vice-versa. Estes fatos mostram que muitos rituais praticados hoje em terreiros
baianos seguem algumas raízes, também, da nação Ijexá oriunda da Nigéria. Outro
contemporâneo de Martiniano e Aninha foi Eduardo Ijexá, que também se destacou
como grande Babalawo dos candomblés baianos; como se vê a nação Ijexá tem
muitos frutos espalhados por solo brasileiro.
No Rio Grande do Sul, o maior destaque da
nação Ijexá foi o sr. Manoel Antonio Matias, Manoelzinho de Xapanã, nascido em
17 de junho de 1896. O Orixá de Manoelzinho trouxe a maioria das rezas cantadas
nos dias de hoje nos batuques. O pai Xapanã "chegava no mundo" e
pegava o tambor para tocar e ensinar as rezas (cantigas de Orixás) para seus
filhos de santo. Era conhecido como mão pelada, pelo poder de seus Feitiços,
viajava muito, pois adquiriu fama em todo território sulino. Dizem os antigos
sacerdotes que Manoelzinho fazia um breve muito poderoso que em seguida
endireitava a vida das pessoas que usavam. até seu pai de santo, Paulino de Oxalá,
temia o Xapanã Jubiteiú de Manoelzinho. Outra famosa Yalorixá da Nação Ijexá
foi tia Antonia de Bará, filha do Pai Paulino de Oxalá Efan, porém, aprendeu
todos os rituais de nação, no terreiro de Manoelzinho. Tia Antonia faleceu aos
96 anos de idade no dia primeiro de dezembro de mil novecentos e noventa e oito
e deixa como herdeiras de seu axé as yalorixás Maria Helena de Xangô e Lurdes
de Ogum, suas filhas de ventre.
Toda a religião de origem africana tem o
mesmo propósito em sua crença, em qualquer nação africana, o ritual em sua
essência é quase o mesmo, usando as mesmas determinações, como o sacrifício de
animais, toques de atabaques, cânticos na linguagem de origem, rigidez nos
rituais de iniciação imutáveis em qualquer nação africana, fato que deveria
contribuir mais para a aproximação dos terreiros em vez da rivalidade que se
instalou nos cultos através dos tempos, acho até que todas as religiões
deveriam se unir visando o bem comum da humanidade, visto que, há tantas
desgraças, "temos recebido tantos recados" como aquele terrível
acontecimento que abalou a Ásia no final de 2004, e ainda assim, não procuramos
entender o que os seres superiores estão nos mostrando.
Fonte: www.xangosol.com
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