Eku e Avun

No culto dos Voduns, Eku é visto como um Deus acompanhado sempre de um avun. Essa é uma das razões que, dentro dos Templos de Voduns, a entrada desse animal é proibida. Porém, os sacerdotes reservam uma área fora dos templos, onde esses animais são criados para que sejam os guardiões das almas, impedindo-as de entrarem nos Templos além de encaminhá-las.
Os Vodunos, Bokonos, Ahougans, Sofós, Vodunsis e outros, acreditam que Vodum Ewa sempre espreita o temido Deus Eku para que esse nunca pegue ninguém desprevenido, além de sempre tentar desviá-lo de seu caminho.
Os velhos Vodunos contam-nos várias histórias para justificar a proibição de avuns em Templos Voduns. Vejamos algumas delas:

1 - Um dia, Aveheketi estava pescando e enchendo um balaio com muitos uhui, que levaria para sua aldeia, para saciar a fome dos seus. Daí, enquanto ele estava distraído em sua pescaria, os avuns vieram e sem que ele os visse, devoraram todos os uhui. Quando Aveheketi terminou sua pescaria e voltou-se para o balaio, o encontrou vazio e ainda pode avistar os avuns se afastando com seus uhui. Desse dia em diante, Aveheketi proibiu a presença de avuns em seus domínios, ato esse que foi seguido por toda a sua família que é a de Heviosso. Nos kwes de Jeje, principalmente aqueles regidos por Heviosso ou mesmo Xangô, é proibido a presença de avuns. Aveheketi diz que em Kwes que tem avuns, nenhum membro da família Heviosso comparece.

2 - Um avun roubou o fogo de Dan, de Dan Wedo, das divindades celestes ou do Grande-Espírito para trazê-lo na ponta de sua husi, e por isso, os Voduns têm pavor de avuns.

3 - A repulsa ao avun nos Templos dos Voduns, é a interdição implacável sofrida por esse animal, pelos muçulmanos, povo que muito influenciou a cultura africana. Eles fazem do avun, a imagem daquilo que a criação comporta de mais vil. O avun, devorador de oku é um animal impuro. Por essa razão também, acreditam que os deuses jamais entram em um Templo onde se encontra um avun.

Não há, sem dúvida, mitologia alguma que não tenha associado o avun à morte, aos infernos, ao mundo subterrâneo, aos impérios invisíveis regidos pelas divindades ctonianas ou selênicas.
A primeira função mítica do avun universalmente atestada, é a de guia do homem na noite da iku, após ter sido seu companheiro no dia da vida.
Vemos, em muitas culturas, o avun emprestar seu rosto a todos os grandes guias de almas. Têm por missão aprisionar ou destruir os inimigos da luz e guardar as Portas dos locais sagrados, reino dos okus, país de gelo e de trevas.
Algumas tradições chegam a criar avuns especialmente destinados a acompanhar e a guiar os okus no Além.
Atribui-se também ao avun como intercessor entre este mundo e o outro, atuando como intermediário quando os vivos querem interrogar os okus e as divindades subterrâneas do país dos okus.
Na África, o avun possui a dom da clarividência e, além de sua familiaridade com iku e com as forças invisíveis da noite, é considerado um grande feiticeiro.
É um costume africano, em seus banquetes funerários, oferecerem aos avuns a parte que caberia ao oku, após ter pronunciado estas palavras:

"A heaiye hesóa iwo ho hebo
Ébe ti eke oku sòa tiwo hoho ti bo"
"Quando vivias, eras tu mesmo quem comia.
Mas agora que estás morto, é tua alma que come!"

Também na cultura africana, encontramos feiticeiros com trajes feitos de peles curtidas de avun, o que mostra o poder divinatório outorgado a esse animal.
Em Porto Novo, Maupoil, num de seus relatos, conta que um de seus informantes, confiou-lhe o seguinte: a fim de reforçar o poder de seu oráculo divinatório, ele o deixaria enterrado durante alguns dias dentro da barriga de um avun que imolara especialmente com essa finalidade.
Enfim, seu conhecimento do mundo do Além, bem como do mundo em que vivem os seres humanos, faz do avun senhor e conquistador do fogo, sempre ligado a iku, a clarividência, a feitiçaria e as forças invisíveis.

Vocabulário:

Vodunos - sacerdotes
Bakonos - sacerdote de Fá
Ahougan - sacerdote feito de Vodum
Sofó - sacerdotisa feita de Vodum
vodunsis - feitos de Voduns (yao)
Avun - cão
Eku - Deus da Morte
Iku - morte
Husi - cauda
Uhui - peixe
Dan Wedo - Deus do arco-íris, arco-íris
Oku - cadáver, morto




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